As Sete Regras

05 maio, 2006

2º capitulo

Com muito esforço consegui chegar ao emprego. quando entrei no edifício parecia uma convenção de cegos, todas as pessoas de óculos escuros e mesmo assim aos encontrões uns com os outros ou com a parede mais próxima.
- Paulo, Paulo! - ouvi gritar. Era João, que corria ao meu encontro, com alguma dificuldade e não sem uns encontros, mais ou menos violentos, pelo caminho.
Conheço o João há 14 anos, desde o nosso tempo de liceu, quando costumavamos "evitar" algumas aulas para irmos ver filmes porno, em casa de um outro amigo.
João era aquele tipo porreiro, com que todos já nos cruzámos, calmo e pouco amigo de confusões. Sempre de acordo com o que sugeriamos, até arrisco dizer com alguma falta de personalidade e por isso mesmo, tentava preencher esse vazio envolvendo-se sempre nas aventuras que, como bons adolescentes, o resto do grupo conseguia sempre arranjar. Mas era o mais sensato, tipo consciência grupal que nos alertava para os eventuais pormenores em que, normalmente, não pensavamos até ser tarde demais. Infelizmente, as vezes que eram ouvido a tempo não eram assim muitas.
Hoje estava nervoso e até um bocado euforico, como raramente o tinha visto.
- Já viste isto?
- É difícil não reparar.
- Pois. Sabes o que se passa? Ninguém aqui sabe de nada.
- Não. Já alguém tentou ouvir na rádio ou televisão alguma coisa?
- Não sei, mas já telefonei ao Pardal e lá passa-se o mesmo.
O Pardal era o terceiro elemento do grupo. Também se chamava João, mas para evitar confusões utilizávamos o seu último nome. Pardal era o oposto de João, confiante e briguento, não pensava duas vezes para arranjar alguma confusão. Estava nos bombeiros municipais de Coimbra há 2 anos e por isso afastou-se um bocado mais nestes últimos tempos.
Apesar de já termos conhecido o Pardal depois de nos termos conhecido, foi com uma diferença de um par de meses e com tantas "aventuras" que os 3 passámos juntos entre os 17 e os 24 anos continuávamos muito unidos, apesar da distância. Depois, com emprego e contas a pagar, acalmámos um bocado. Ainda assim Pardal continuava a "voar" muito.
- E ele não disse mais nada?
- Não. A chamada caiu antes de podermos continuar a falar. Ainda não consegui ligar-lhe outra vez.
Foi aqui que reparei em várias pessoas agarradas a telefones a clicar frenéticamente nas teclas ou a olhar pasmadas para o auscultador. Percebi que o problema não era só do telefone do João.
Reparei também que estava a ficar ainda mais difícil abrir os olhos, a luz parecia estar a aumentar e já havia pessoas pelo chão e muito material pelo ar, com um agravamento nas colisões.
A luz estava insuportável e os telefones não funcionavam, não era, afinal, apenas um dia no início da primavera.